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“Vejam se existe um amor igual ao meu”

Sim, somos seres de desejo. Não podemos não ser seres de desejo. Às vezes damos a impressão de termos dessedentados não nossa sede de água, mas a de viver densamente. Na verdade nada está pronto, tudo está inacabado, precisa ser retomado. Em muitos momentos irrompe dentro de nós a certeza do amor do Senhor. Por vezes, quando nos sentimos meio paralisados interiormente, relemos a Paixão de Jesus e agarramo-nos nos braços do discípulos de Emaús até o momento em que eles entraram na estalagem e o Senhor partiu o pão. Ora, cada primeira sexta-feira do mês, para nós, é uma chamada, um despertar “Vejam se existe um amor igual ao meu”, nos diz o Senhor.

 Esta reflexão se baseia em José Tolentino Mendonça (Elogio da Sede, p. 55-57) . Sede de descobrir mais densamente o Deus que se revela no olhar, nos gestos, nos silêncios, nas parábolas, nas reações de Jesus. Não ficar apenas na religião do Creio em Deus Pai todo poderoso… Sede de vislumbrar meios e modos de esvaziar-nos de nossos pequenos interesses. Sede de saber a razão pela qual fomos inventados e quais as trilhas mais acertadas a serem percorridas para satisfazer essa urgência de amar e ser amado. Sede de viver para… Não podemos ser dominados pela apatia.

A contemplação do peito aberto do Senhor deve nos curar de certo tipo de depressão. Kierkegaard escreve em seu diário:

“Estranha inquietação essa que me aprisiona. Parece que a vida que vivo não seja a minha, mas corresponda ponto por ponto a uma outra pessoa sem que eu possa fazer o que quer que seja para impedi-lo… Não tenho vontade de nada. Não me apetece caminhar, pois isso cansa-me; não me apetece deitar-me porque ou deverei passar muito tempo deitado e não me convém; ou levantar-me depressa e isso aborrece-me; e nem pensar em cavalgar, é um exercício duro demais para minha apatia”.

 “Quando desistimos de desejar, de achar sabor nos encontros, nas conversas partilhadas, nas trocas, na saída de nós mesmos, nos projetos, na própria oração. Quando diminui a nossa curiosidade pelo outro, a nossa abertura ao inédito e tudo nos soa um requentado déjà-vu que advertimos como um peso inútil, incongruente e absurdo que nos esmaga. Parece então que passamos a viver com uma tabuleta na frente que diz: “Não estou, ou não quero estar, ou não consigo estar com ninguém”.

 Jesus, no alto da cruz, teve sede. Sede de água. Sede da atenção cordial das pessoas. Que nós tenhamos sede dos borbotões de vida que jorram do mais belos dos homens e que esta água nos arranque da apatia.

QUANDO RENUNCIAMOS À SEDE É QUE COMEÇAMOS A MORRER.


Frei Almir Ribeiro Guimarães

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