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TRES HORAS DA TARDE

Sexta-feira santa. Três horas da tarde.
Jesus morre.
Enquanto houver um sofrimento na terra,
um rosto desfigurado pela dor,
enquanto houver em algum lugar uma criança que morre
e uma mãe desvairada gritando
porque não pode acreditar nessa tragédia,
enquanto  houver oprimidos, famintos e vidas que falharam
e prostitutas que continuam prisioneiras de sua noite,
enquanto houver o grito de um homem humilhado,
enquanto houver o grito de alguém sendo torturado,
enquanto a morte estiver por perto,
agachada  como um animal, nas dobras do tempo:
Jesus não cessará de morrer.

Ele morre de amar.
Por isso as três badaladas da Sexta-feira Santa como um sino
que anuncia os mortos.
Sexta-feira, três horas: hora dos carrascos.
Quando os carrascos ganharam, qualquer que seja a vítima,
imediatamente o silêncio nos crispa
como um mal estar de estômago.
Se a vítima, porém, é uma ternura inocente
é como se estivesse sendo assassinada minha própria ternura.
A  cruz de Jesus, esse corpo desconjuntado,
sacudido por espasmos e tremendo de febre.

Jesus na cruz: o Amor e a Morte.
Nos, perto uns dos outros, conhecemos o desfecho de tal combate.
O Amor e a Morte!
Se a Morte ganhar, Senhor, Senhor, estaremos perdidos.
Jesus na cruz, uma ternura esquartejada
esse rosto com lágrimas e sangue,
esse  rosto que nada mais  é do que um imenso olhar
como se os olhos afundados pelas lágrimas
ocupassem todo o espaço da face
e de repente toda a verdade da terra:
o Amor e a Morte.
Jesus crucificado: um grande amor ameaçado pela morte?
Eis o homem!

Jacques Leclercq
Foto: Frei João Manoel Zenichatto, OFM.

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