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O inolvidável encontro com o leproso

O tema do leproso é importante na vida pessoal de Francisco de Assis e daqueles que querem inspirar-se nele ao longo do tempo da existência. Gostaria de começar esta reflexão citando umas poucas linhas da Carta do Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Massimo Fusarelli e de seus assistentes pela passagem da Solenidade do Poverello: “Fomos convidados pelos irmãos capitulares, no contexto da pandemia que estamos vivendo como humanidade, a procurar fazer um esforço de ler a realidade, a história, a cultura, a economia e a Igreja onde vivem os pobres, os vencidos, os marginalizados, de tal modo que, com novo olhar profundo, crente, encarnado, teológico possamos abraçar e deixar-nos abraçar pelos pobres e perdedores”.

Francisco de Assis, ao fazer a memória sua vida no Testamento, nos garante que assim começou a mudar de vida, a fazer penitência:

“…quando eu estava em pecados parecia-me muito amargo dar com os olhos nos leprosos; mas o Senhor mesmo, um dia, me conduziu entre eles e com eles usei de misericórdia. E ao afastar-me deles, o que antes me parecia amargo, converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo: e em seguida, passado um pouco de tempo, saí do mundo” (Testamento, 2-3).

Ao referir-se à descoberta de um caminho de vida, Francisco coloca antes de tudo como decisão seu encontro com o leproso, celebrado por um abraço ou um beijo. Afirma que as coisas mudaram dentro dele. O amargo ficou doce e o doce, amargo. Mais ainda: pouco depois ele abandonou o mundo, quer dizer, o arranjo de vida segundo a carne e passou a pensar a partir do que é pequeno e humilde e deixar-se iluminar pelo Espírito. Começava para ele uma vida “espiritual”.

Podemos imaginar a cena. Francisco não tinha jeito de fingir que não o tinha visto quando se viram um perto do outro.. Não podia fugir. Treme interiormente. Tem vontade de correr. Aquele corpo desfigurado, mal cheiroso, com as bochechas sangrando. Não via apenas a miséria humana. Abraçava-a. Revolução interior. Donald Spoto assim descreve a transformação do filho de Pietro Bernardone:

“Cuidando dos rejeitados deste mundo, Francisco começava a ascender à genuína nobreza que buscava, que seria descoberta não nas armas, ou em títulos e batalhas, glorias e desafios. A honra não estava na companhia dos mais fortes, dos mais atraentes, dos mais bem vestidos ou mais seguros na sociedade, mas entre os mais fracos, os mais desfigurados, os que estavam marginalizados, dependentes e desprezados. (…). Ao dedicar-se ao cuidado dos leprosos, ele passara além do conhecimento e chegara à experiência. No inimaginável sofrimento dos leprosos, ele viu a agonia final de Cristo crucificado – o Cristo abandonado e rejeitado, solitário na morte, aparentemente impotente contra a triunfante maldade de mundo” (Donald Spoto, Francisco de Assis. O Santo Relutante, Objetiva,p. 104).

Em carta dirigida aos frades capitulares da Ordem dos Menores assim se exprimiu o Papa Francisco:

“Na raiz da espiritualidade franciscana está seu encontro com os últimos, os sofredores, no sinal do “fazer misericórdia” Deus tocou o coração de Francisco através da misericórdia oferecida ao irmão, e continua tocando os nossos corações através do encontro com os outros, especialmente os mais necessitados. A renovação da vossa visão só pode partir deste olhar novo com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado, sinal quase sacramento da presença de Deus”.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

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