Frei Almir Guimarães
Chegando a Jesus, como os soldados o viram já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um do soldados atravessou-lhe com uma lança o lado, e imediatamente saiu sangue e água (Jo 19,34).
Veremos, nesses textos, o que se entende por “coração”, coração humano. Jesus nos amou de todo o coração, quer dizer, de todas a suas entranhas.
O coração é o centro do organismo humano com especial função de governo dos sentidos superiores e inferiores. É a sede dos sentimentos e de “governo” de todos os atos em que se empenha a personalidade humana. Constitui o centro da pessoa, a raiz de seu ser do qual proveem atitudes que se integram num conjunto psicofisiológico unitário. É o coração que determina os conjunto das forças perceptivas e psíquicas formando um unicum com a dimensão física, espiritual e moral de todas as pessoas. Além dessas importantes funções corpóreas e psíquicas, o coração tem uma função fundamental na constituição espiritual do homem porque é a sede da faculdade que nos remete para o transcendente.
Na linguagem própria da Bíblia, ele representa a morada estritamente interior, o centro mais profundo do homem, o “fundo” no qual moram os ideais mais elevados, as aspirações, a vontade, o conhecimento de si. É também considerado o ponto onde se radica e do qual provém e para o qual converge a vida espiritual, a “sede” com a capacidade de manifestar a realidade espiritual, o sentir espiritual, quer dizer o sentido sobrenatural, a sua consciência moral na qual a Verdade fala. Entra em ti mesmo e lá encontrarás Deus e o Reino, dizem os mestres da espiritualidade, já que Deus colocou no coração do homem o desejo dele. São Lourenço Justiniano afirma: “O Reino de Deus está dentro de nós e, portanto, é dentro do coração que Deus quer morar”.
O órgão com o qual se pode “ver” a Deus é o coração, considerado o lugar da visão suprema, o lugar onde ele concede um desvelamento intuitivo. Somente o coração puro é capaz de perceber interiormente a divindade e ver os benefícios do amor de Deus. A esta forma de conhecimento não se pode chegar racional ou fisicamente, mas com “sentido divino”, adquirido gradativamente com a ajuda da inteligência reorientada segundo sua natureza espiritual e com um modelo de vida conforme o projeto querido por Deus. Como somente os puros de coração podem ver a Deus, assim esses, já neste mundo, podem aproximar-se dos mistérios celestes com alguma compreensão porque o coração puro se dispõe e se abre à graça do Espírito Deus atrai os corações puros para deles tomar posse.
Textos de Jole D’Anna, “La pureza del cuore”, Rivista de Ascetica e Mística, n.2, aprile-giugno 2017
Para refletir e rezar
O “coração” designa o centro mais íntimo, onde toda multiplicidade é ainda uma. Quando dizemos: “Coração de Jesus”, evocamos o que o Cristo em de mais íntimo; que seu centro é repleto do mistério de Deus; dizemos que neste coração – em oposição trágica, assustadora e beatificadora, com todas as nossas experiências de vazio, de nada e de morte – reina o amor infinito por meio do qual o próprio Deus se entrega. Quando dizemos “Coração de Jesus” é isto que cremos e confessamos com todas as forças de nosso próprio coração. Confessamo-lo no sofrimento que tomba sobre nós: nesse momento temos todos os motivos de orientar nosso olhar sobre aquele cujo coração foi traspassado (Karl Ranher).