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Francisco de Assis, um ser inquieto

Sempre de novo, no começo de outubro, projeta-se diante de nossos olhos a forte e encantadora figura de Francisco de Assis. A impressão que se tem é que ele não morreu e que, a cada momento, em Assis, vamos encontrá-lo vendendo tecidos na loja do pai, enturmado com a juventude nas praças da cidade, em êxtase diante do Cristo bizantino de São Damião, lavando as chagas dos leprosos, mostrando discretamente seus estigmas a Clara. O Poverello não morre porque Francisco é uma versão viva do Evangelho, uma nova edição. Francisco e o Evangelho se confundem.

Um ser de perguntas. Busca grandezas. Veste-se elegantemente. Paga as contas das festas que partilha com os amigos. Na maneira de ver de seu pai foi sempre um esbanjador. Não era a pessoa que ele precisava para continuar seu comércio. Queria viver e vencer. Num determinado momento participa das lutas de Assis. É preso. Fica doente. Lá dentro dele a chama não morre. Juntando-se novamente a seus amigos não parece o mesmo. Vai sendo trabalhado por dentro. Será que vale a pena engajar a vida em coisas pequenas? Não seria melhor servir ao Senhor e não ao servo? Tudo misterioso. Os amigos acham-no macambuzio. Será que está caindo de amores por uma das mocinhas de Assis?

Um ser em busca. Muitos de nós andamos fazendo nossas experiências existenciais. Fomos crescendo, fazendo o que nos mandavam fazer, meio indecisos aqui e ali, dávamos impressão de que estávamos firmes quando, na realidade, sentíamo-nos inseguros. Mas não dizíamos aos outros. Aparência de segurança, mas no fundo receios e medos. Reforçávamos o exterior, a aparência, mas chorávamos, decepcionados porque aqueles sucessos, mesmo sendo êxitos, não enchiam o nosso coração. Somos seres em busca. O que a vida quer de mim? O que o Senhor pede de nós? Seres de coração irrequieto como o de Santo Agostinho.

Os primórdios da aventura de Francisco foram marcados por encontro ou encontros com o Cristo bizantino da igrejinha de São Damião. Os biógrafos dão a entender que Francisco ouviu um primeiro dos convites do alto para restaurar a Igreja, ou aquela igrejinha e as outras que andavam caindo aos pedaços e abandonadas. Tratava-se de restaurar os prédios. As coisas começavam a ficar mais claras para Francisco. Quem sabe mais tarde ele haveria de entender que era a grande Igreja é que precisava tornar-se nova com o retorno ao Evangelho.

Vivemos um tempo delicado de mudanças e transformações no mundo, na Igreja e na Ordem. Não sabemos em que terreno firme pisar. Há muito do novo que não atinge o nó das pessoas. São novidades que destroem o carisma. Será fundamental desobstruir nosso interior, essas paróquias feitas de coisas cansadas e mecanicamente repetidas, uma rotina anestesiante. Precisamos de pessoas mais puras, mais transparentes, com mais frescor, pessoas que se deixem fascinar pelo Evangelho. Voltar ao Evangelho vivo, bem vivo, não de papel, Evangelho que tem o nome adorável de Jesus. A partir do encontro com Jesus e o Evangelho restaurar o tecido da Igreja que aqui e ali demonstra estar esgarçado.

Cabe bem aqui uma palavra do Papa Francisco:

“Todos os cristãos, em qualquer lugar e situação que se encontrem, estão convidados a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Cristo, ou pelo menos tomar a decisão de deixar encontrar-se com ele, de procura-lo cada dia se cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que esse convite não lhe diz respeito, já que da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído” (EG 3).

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

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