Audaz, audácia são palavras que podem soar bem aos ouvidos, como também, em certos momentos, revelarem uma imprudência. Dizemos, de um lado, que um plano de ação é corajoso, audacioso, quase uma utopia. De outro lado, existe a audácia de um piloto da Fórmula 1 ou os audaciosos ladrões de um Banco. Tomamos aqui a palavra audácia no sentido de uma postura de imensa de coragem, no caso de Francisco, de realizar um projeto que nasce dentro dele, cujas linhas mestras veem do Evangelho. Coragem, por sua vez, vem de coração. Lembraria ainda, segundo as palavras de Jesus, que o Reino de Deus “sofre violência”. A audácia de Francisco tem sua força no seu imenso amor pelo Cristo que tomou conta de sua vida.
Inspiro-me agora em escritos de Suzanne Giuseppi Testut, no seu livro “François d’Assise. Le prophète de l’extrême.” Francisco abraça o Evangelho em sua totalidade. Muda imediatamente sua roupa normal. Passa a viver em lugares extremamente rudes. Não tem panelas e nem faz compra nos armazéns. Anda a pé e pede que os frades não andem a cavalo. Uma coragem demonstrada imediatamente.
E a audácia do Poverello quer dizer não ter medo de tirar as últimas consequências do Evangelho: colocar-se confiantemente nas mãos de Deus, não perder espírito da santa oração e devoção, não armazenar bens por desconfiança na Providência, ir pelo mundo sem bagagem, perdoar as maldades dos salteadores, experimentar alegria ao ser mal recebido pelo irmão porteiro, conversar serenamente com o irmão lobo, morrer na terra nua como morto morreu seu amado Jesus. Em tudo uma imensa generosidade e uma presteza imediata. Se assim é dito, assim será feito. Audácia que não demora a realizar o que precisa ser realizado. O amor pressiona.
Todas as pessoas, de modo especial os jovens, encontram-se, uma vez ou outra, na encruzilhada dos caminhos e precisam dar provas de audácia. Precisam correr o risco do desconhecido, do engano, da queda, do acidente na estrada. A timidez e a relutância são mais nefastas e perigosas do que a audácia porque aprisionam as pessoas no medo. O coração adormece. Quando o coração se esclerosa o motor da vida cede lugar ao processo da morte. Como encontrar forças para ir ao encontro de si mesmo, dos outros e de Deus? É difícil correr o risco de Deus.
O testemunho de Francisco é precioso pelo seu lado humano porque nos mostra que, por detrás da incompreensão do que pode nos parecer loucura está talvez ou muitas vezes um chamado de Deus. O Poverello sai de seu ambiente. Deixa o mundo familiar dos amigos que lhe dava segurança. Sai de si mesmo, para entrar em si mesmo e se abrir sem medo à ação do Espírito. Ouviu o chamamento: “O que é melhor: servir ao Senhor, ou ao servo?”
Francisco ousou o risco, ousou a loucura, ousou a aventura espiritual. Não foi esta audácia que fez com muitos e muitas principalmente jovens. corressem atrás dele através dos tempos? Será que esse tipo de aventura interessa à juventude atual, segundo nossa autora, tão frequentemente invadida pela tentação do virtual que lhe oferece a tecnologia moderna? Talvez uma juventude que recuse a realidade criada, a confrontação e o compromisso. Há jovens que compreenderam essa aspiração profunda de um movimento que leva rumo a Deus.
Coragem, levantar, não ter medo. O Cristo há de nos iluminar!
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM