Editora Vozes
Conhecida também como “Vozes de Petrópolis”, existe há mais de 120 anos, sendo a mais antiga casa editora do Brasil em funcionamento.
A Editora Vozes atua no mercado livreiro publicando e comercializando obras que privilegiam especialmente três grandes áreas: Ciências Humanas, Teológico-espiritual e Catequética.
Sua história tem início com o entusiasmo e a visão de dois frades franciscanos que, ainda no final do século XIX, empenharam-se no empreendimento de uma tipografia. Na oficina montada para imprimir o jornal O Estado – o qual, na verdade, jamais chegou a ser publicado –, Frei Inácio Hinte descobriu uma velha máquina impressora, da marca Alauzet. A pedido do frade, a máquina, sem préstimo e em péssimo estado, foi cedida ao convento franciscano de Petrópolis, sendo tal pedido aprovado e estimulado por seu superior no convento, Frei Ciríaco Hielscher. Frei Inácio, que na Alemanha fora aprendiz de tipógrafo, não tardou a mergulhar na tarefa de restaurar a máquina, enquanto o guardião instava às autoridades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil – a qual pertenciam – que lhe concedessem licença para utilizá-la, visando à impressão de livros para a Escola Gratuita São José, fundada em 1897, por aquela mesma ordem religiosa. Finalmente, a 5 de março de 1901, a licença foi concedida e a oficina tipográfica, uma vez instalada nos porões do convento passou a chamar-se Tipographia Escola Gratuita São José, sendo dirigida pelo mesmo Frei Inácio, que permaneceu à sua frente até 1947.
A expansão da tipografia começou em breve, uma vez que os compêndios escritos para alunos da Escola São José começaram a ser encomendados por várias outras escolas católicas. Cabe ressaltar que esse material didático teve papel fundamental no movimento de resistência da Igreja Católica contra o avanço da filosofia positivista, então crescente.
A partir do êxito daquelas publicações, a tipografia começou a produzir outras obras destinadas ao público católico, entre elas, ainda em 1907, a revista Vozes de Petrópolis, a qual, tendo chegado a todos os estados do país, tornou-se mais conhecida do que a própria editora, terminando por renomeá-la, em 1911.
A relevância dos serviços prestados pela editora é, de fato, inegável. A Vozes tem sido, desde seus primeiros tempos, o maior veículo de divulgação de cultura religiosa do Brasil, fomentando os movimentos intelectuais católicos, donde surgiram figuras do porte de Tristão de Athayde e Gustavo Corção, Boaventura Kloppenburg e Leonardo Boff entre tantos outros. Muitos dos mais importantes livros escritos no mundo sobre temas cristãos foram, como a Imitação de Cristo, traduzidos pela empresa franciscana.
Nos anos 1970, durante o período de repressão da ditadura militar, a editora destacou-se pela corajosa publicação de obras em defesa da liberdade, como Tortura Nunca Mais e a Voz dos Vencidos, e também pela publicação de livros fundamentais para o estudo acadêmico, sobretudo nas áreas de teologia, filosofia, sociologia, antropologia e psicologia.
Hoje, depois de espalhar filiais pelo país, a Editora Vozes está entre as maiores do Brasil. A Editora Vozes lança de 15 a 20 novos títulos a cada mês, além de reimprimir de 30 a 40 outros. Sobressaindo ainda por sua linha editorial segura e diversificada, a Vozes prova que, ao contrário do que muitos insistem em dizer, o Brasil desfruta de um imenso potencial dentro da indústria cultural.
FOLHINHA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Pendurada na parede de casas do interior e de grandes cidades, lida por milhares de pessoas em todo o Brasil e até no exterior, utilizada em programas radiofônicos, celebrações religiosas, boletins, jornais regionais e para compor cenários de programas televisivos: novelas, séries humorísticas e filmes. Assim é a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus: Hoje, a mais antiga publicação do gênero calendário no Brasil, desde 1940, é publicada pela Editora Vozes.
Nascida na “mente” do fundador da Vozes, Frei Inácio Hinte, em 1939 teve a tiragem inicial de 31 mil exemplares, tornando-se o “best-seller das paróquias” (título da matéria do Jornal do Brasil de 27/08/1992), com vendas que chegaram a 1 milhão de exemplares (edições de 1964 e 1965). Já a edição de 1982, atingiu a marca histórica de exatos 1.260.705 unidades.
A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, ou Folhinha do Sagrado, simplesmente Folhinha, destaca-se por apresentar em sua estampa a imagem do Sagrado Coração de Jesus com a invocação: “Coração de Jesus, abençoai este lar!” e um bloco com calendário anual recheado de informações em 768 páginas destacáveis, que é encaixado na parte inferior da estampa.
Na editora petropolitana a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus faz parte dos produtos sazonais, termo este utilizado para as suas publicações que servem para o período de um ano.
Segundo o livro de Crônicas do Convento do Sagrado Coração de Jesus, de Petrópolis, Frei Inácio Hinte
“pretendia oferecer ao povo católico um Manual de Instrução Religiosa sui generis. O cromo é uma ornamentação do lar, as folhas diárias, em ambos os lados, apresentam comunicações de vida católica, começando pelas indicações litúrgicas na parte da frente, sendo útil em toda a sacristia e o lado verso é um volume dogmático, histórico em relação à vida dos santos, menciona fatos importantes da história pátria, às vezes dá à petizada problemas agradáveis de passatempos e conselhos a serem executados na cozinha. A primeira edição apareceu em 1940, era uma tentativa. O redator principal a elaborar os textos nas pequenas folhas é sr. Jorge Conrado Deister, que teve a mão feliz na escolha dos dizeres a imprimir” (Cr/4: 1939-1942, folhas 05v-06).
O título da Folhinha teve origem na devoção ao Sagrado Coração de Jesus e, provavelmente, no nome da igreja e convento dos franciscanos da cidade. Durante o passar do tempo, teve seu nome alterado: de 1940 a 1959, Folhinha do Sagrado Coração de Jesus; de 1960 a 1975, Almanaque do Sagrado Coração de Jesus; de 1976 a 1978, Informativo Popular Coração de Jesus e, de 1979 até hoje com o seu nome primeiro.
Mas qual o segredo para a sua durabilidade e estima entre o público leitor?
– A linguagem utilizada em suas páginas diárias prima por ser simples e direta, tornando-se acessível a grande maioria de leitores.
– Na frente e no verso do bloco há informações para a família sobre diversos assuntos. Na parte frontal de cada folha – que leva o singelo nome de “pagela” –, aparece a sinalização do dia, mês e ano, além da liturgia da missa com as leituras bíblicas, os santos do dia, as comemorações cívicas, um versículo bíblico, uma frase literária, e a indicação diária da fase da lua, fornecida pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro.
– Mas o que realmente atrai o público são os textos breves no verso de cada pagela. Neles se alternam comentários das leituras bíblicas dominicais e de solenidades litúrgicas, temas de religião, mensagens, orações, vida de santos, concurso bíblico mensal, reflexões sobre diversas áreas, datas comemorativas comentadas, cuidados com a saúde, dicas de cozinha e de economia doméstica, de agricultura, de pesca com a lua mais apropriada, receitas culinárias, entretenimento como piadas, curiosidades, passatempos, poesias e trovas. Enfim, uma diversidade de temas culturais e religiosos que bem ao estilo de um almanaque popular.
Para a redação desse conteúdo a Folhinha conta com a participação de especialistas que escrevem sobre assuntos de sua área de atuação e com a colaboração dos próprios leitores que enviam receitas culinárias, dicas diversas, trovas, piadas, passatempo.
A partir de 1959, o bloco da Folhinha é impresso na Pavema, impressora rotativa alemã, fabricada em 1958. Tem 22 toneladas e imprime 3 cores simultaneamente em duas faces com capacidade média horária de 8 mil cópias. Quando não produz o calendário, dá lugar para a impressão da Bíblia Sagrada e do famoso Minutos de Sabedoria.
Além do modelo tradicional, de parede, a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus é apresentada em outras versões com o mesmo conteúdo: 1) o Calendário do Sagrado Coração de Jesus – versão para mesa e ambiente de trabalho, com páginas destacáveis, contendo linhas para anotações; 2) e em aplicativo para smartphones de sistemas Android e IOS.
Crônicas, poesias e depoimentos
Leitores escrevem sobre a Folhinha, deixando seu testemunho em depoimentos, crônicas e poesias. Trazemos aqui três deles, selecionados de tantos outros.
“Na sala, o que havia de novo cada ano era a folhinha-cromo da parede, que minha mãe no começo de cada janeiro suspendia no infalível prego, no mesmo lugar e que eu fazia questão de desfolhar, não para a certeza dos dias da semana ou do mês que isso não me importava e sim pelas quadrinhas que traziam no verso e que eu incorporava ao meu cabedal de conhecimentos”.
Cora Coralina, poeta goiana,
crônica presente no livro Estórias da Casa Velha da Ponte, Ed. Global. Também está no local em que fora a sua casa, hoje museu, em Goiás Velho, GO
“A morte do escritor
não se quer resolver dentro de mim.
Mas não tenho gosto na infelicidade
e por isso busco meu caminho
como um verme sabe do seu, dentro da terra.
Muitas coisas me valem quando Deus fica estranho
e do que é mínimo, às vezes,
vem o desejado consolo.
Informativo Popular Coração de Jesus
é o nome de um calendário de parede.
ABENÇOAI ESTE LAR está escrito nele.
O coração sangra na estampa,
mas o rosto é doce, próprio a enternecer
as mulheres da cozinha, feito eu.
Toquem mal o piano, vou me deliciar
– nada é mesmo perfeito –,
uma gota de mel desce em minha garganta.
No dia 8 de janeiro está escrito na folhinha:
A FÉ GUIOU OS MAGOS – LUA NOVA AMANHÃ.
Lua nova, que nome mais bonito pra um consolo”.
Adélia Prado, poeta mineira,
em seu livro Poesias Reunidas, Ed. Siciliano, 1991
No início da década de 1990 aconteceu um fato interessante. O cacique xavante Aniceto, da reserva indígena de Sangradouro (MT), em visita a Petrópolis, cidade imperial e onde a Editora Vozes tem sua sede,
“pediu que lhe mostrassem a máquina Pavema onde a Folhinha é impressa. Os freis contam que o cacique tocou a máquina, cheirou e ficou algum tempo em silêncio, como se fosse uma reverência. De repente, virou para os anfitriões (frades e funcionários) e disparou: ‘Eu não podia voltar à minha tribo sem ver essa máquina. Porque mais importante que o brilho da coroa do imperador, que está no Museu Imperial, é essa máquina. O brilho da coroa eu não posso levar para a minha tribo, mas essa máquina produz a Folhinha que está pendurada na minha oca”.
Frei Márcio Aurélio Costa, frade franciscano e ex-redator, relato publicado no Jornal do Brasil em 27/08/1992
Frei Edrian Josué Pasini, OFM
Redator da Folhinha do SCJ e editor de Produtos Sazonais da Editora Vozes