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A liturgia que celebramos por ocasião das festas juninas

Nas festas juninas…

Mês de junho: mês das melhores festas religiosas populares brasileiras. Sem ignorar outras; é claro. Mas estas, de junho, merecem especial consideração, também para quem gosta da Liturgia.

Elas acontecem por ocasião de três datas celebrativas do calendário da Igreja Católica: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24), São Pedro e São Paulo (dia 29).

Festa junina faz lembrar tanta coisa, pelo menos quando não há pandemia: Fogueira, som do acordeão, zabumba, triângulo, flautins…, e a voz solta do cantor animando o forró, animada quadrilha, casamento caipira, traje e maquiagem de jeca e damas da roça, chapéus de palha, coloridas bandeirolas enfeitando o salão, a praça, a rua, o salão, a escola… Comida e bebida típicas: rapadura, batata assada, pinhão (no sul), pipoca, doces variados, canjica, quentão… Tudo regado a contagiante alegria, animação, humor e congraçamento social.

A Liturgia que celebramos

 Enquanto isso (ou em outro momento), lá dentro das igrejas, grupos outros de pessoas se reúnem para celebrar a raiz e a fonte da festa: a divina Liturgia, em torno da Palavra de Deus e do altar da Eucaristia. Às vezes de maneira muito formal e estilizada, não tão espontânea como a festa popular. Mas se celebra… Não deixa de ser também uma celebração. E se soubéssemos de fato o que celebramos, talvez até o faríamos com muito mais vibração…

O Catecismo da Igreja Católica vê a Liturgia como “obra da Santíssima Trindade” (cf. nn. 1077-111). Então a gente se pergunta: Qual a Liturgia que celebramos por ocasião das festas juninas? Em outras palavras: qual a obra da Trindade que celebramos?…

Uma primeira obra que pode nos vir à mente é a própria realidade dos santos celebrados: eles são obra de Deus.

Por isso que, no dia de Santo Antônio, se reza logo no início da missa: “Ó Deus…, que destes ao vosso povo Santo Antônio como insigne pregador e intercessor em todas as dificuldades…”: Santo Antônio é obra de Deus!

Na festa de São João (dia em que comemoramos o nascimento de São João Batista), a oração começa assim: “Ó Deus, que suscitastes São João Batista, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito…”: São João é obra de Deus!

E, na festa dos apóstolos, São Pedro e São Paulo, iniciamos a oração com estas palavras: “Ó Deus, que hoje nos concedeis a alegria de festejar São Pedro e São Paulo…”: São Pedro e São Paulo são obras de Deus! A alegria de celebrar estes dois grandes santos (bem como Santo Antônio e São João) é obra de Deus: do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Divina Liturgia!

Por meio de Santo Antônio, “Deus fortaleceu a Igreja com o exemplo de sua vida, o ensinamento de sua pregação e o auxílio de suas preces” (cf. Prefácio do dia).

São João Batista, precursor de Jesus e consagrado como “o maior entre os nascidos de mulher…, exultou com a chegada do Salvador da humanidade e seu nascimento trouxe grande alegria”; e mais, “foi o único dos profetas que mostrou o Cordeiro redentor”; “batizou o próprio autor do Batismo… e, derramando seu sangue, mereceu dar o perfeito testemunho de Cristo” (cf. Prefácio do dia).

“Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação. Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração” (Prefácio do dia). Tudo obra de Deus que celebramos…

E em mais! Santo Antônio foi ungido pelo Senhor e enviado para anunciar a boa nova aos pobres (cf. Is 61 ,1-3). Como tal, tornou-se um eterno cantor do amor do Senhor (cf. Sl 88), um dos “poucos” trabalhadores da grande messe (cf. Lc 10,1-9).

De São João Batista, Deus fez luz das nações (cf. Is 49,1-6), transformando-o num hino de louvor e ação de graças por tê-lo formado “de modo admirável”, fazendo dele insigne pregador de um batismo de conversão (cf. At 13,22-26): seu nome só tinha que ser João (cf. Lc 1,57-66.80)!

Quanto a São Pedro, apelidado de “rocha” pelo Senhor, recebeu “as chaves do Reino dos Céus” (cf. Mt 16,13-19); liberto da prisão pelo anjo do Senhor (cf. At 12,1-11), nós podemos com ele cantar: “De todos os temores me livrou o Senhor Deus” (cf. Sl 33); e Paulo, por sua vez, depois de cumprida a missão que lhe dera o Senhor, podia exclamar agradecido e esperançoso: “Agora está reservada para mim a coroa de justiça” (cf. 2Tm 4,6-8.17-18). Tudo obra de Deus que celebramos…

Mas a razão última de tudo está no próprio mistério pascal de Jesus Cristo vivido na celebração da divina Liturgia: a maior obra da Trindade. É o Senhor Jesus Cristo que, por sua vida, morte, ressurreição e dom do Espírito, fez de Santo Antônio, São João Batista e São Pedro e São Paulo grandes santos, dignos de admiração, motivo de alegria e exemplo para todos nós. Por isso que, na oração eucarística da missa, ao ouvir a narração do mistério central de nossa fé, todo o povo proclama (de preferência até cantando): “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.

Na hora da comunhão, participamos desta Páscoa de Cristo, comendo do seu Corpo entregue e bebendo do seu Sangue derramado. Assim, a exemplo de Santo Antônio, podemos viver “em contínua ação de graças” (ver a oração depois da comunhão na festa do santo); a exemplo de São João Batista podemos “reconhecer no Cristo, por ele anunciado, aquele que nos faz renascer” (ver a oração depois da comunhão na solenidade do santo); e, enfim, “perseverando na fração do pão e na doutrina dos Apóstolos, e enraizados no amor de Deus, podemos ser  “um só coração e uma só alma” (ver a oração depois da comunhão na solenidade do santo).

Eis a Liturgia que celebramos por ocasião das festas juninas. Enquanto o povo, em seus folguedos lá na rua, na praça, no salão, se alegra feliz e jocosamente, tendo como motivo de fundo Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo, santificados pelo mistério de Deus, a Igreja reserva um momento especial (ou momentos especiais) para celebrar a raiz e fonte última das festas: a Palavra viva de Deus e a Ceia memorial do Senhor que, pelo seu Espírito, nos salva, nos alegra e nos fortalece em comunhão com seus santos.

Frei José Ariovaldo da Silva, OFM

Ilustração: Frei Fábio Melo Vasconselos

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